A primeira vista, o material medindo 4 mm de diâmetro,
lembra um comprimido que se ingerido conforme a recomendação médica
poderá curar enfermidades. Porém, apesar da semelhança física e também
apresentar propriedades de cura, este corpo de cor esbranquiçada está
longe de ser uma pílula. É na verdade, um bionanocompósito criado pela pesquisadora
paraense Sabina da Memória Cardoso de Andrade, que poderá ser utilizado
para a restauração óssea por perdas provocadas ou não por traumas.
Em outras palavras, este biomaterial forma, na verdade, um novo tipo
de osso sintético que, em virtude das substâncias que o compõem, possui
potencial para ser usado pela Medicina e odontologia no preenchimento da
calota craniana e maxilo facial. Poderá, inclusive, ser usado no
preenchimento de falhas ósseas causadas pela retirada de tumores de
câncer ósseo em diferentes partes do corpo humano.
Neste sentido, o novo osso sintético abre um leque de esperança para
milhares de pacientes que estão a espera de um implante ósseo. O
biomaterial foi confeccionado a partir da associação de hidroxiapatita –
da qual se aproveitou as propriedades de bioatividades; com a
propriedade de absorvição de impacto do poli (álcool vinílico); e mais a
ação antibactericida do poliuretano.
EXPERIMENTOS
Os primeiros experimentos com o material, realizados em laboratórios, apresentaram resultados positivos. Neles foram feitos os testes tanto in vitro quanto in vivo (com animais). Contudo, os testes clínicos (em humanos) ainda não foram realizados.
De acordo com a pesquisadora Sabina Andrade, que também é professora do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Pará (IFPA), a pesquisa só ficará disponível
para a comunidade acadêmica a partir de setembro deste ano, por causa do
processo de patente.
O estudo
foi desenvolvido por meio de uma parceria entre o IFPA, a Universidade
Federal do Pará (UFPA) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) –
onde a dissertação foi desenvolvida e defendida.
AS PESQUISAS
Ela é formada em Engenharia Civil, mas concluiu o doutorado em
Engenharia Mecânica na Área de Materiais e processos de Fabricação. “Eu
já trabalhava em processos de fabricação de materiais. Quando fui fazer o
meu doutorado já tinha ideia que queria fazer um compósito. Foi quando
uma das minha orientadoras sugeriu que eu criasse um biomaterial, daí
surgiu este bionanocompósito tanto para área médica como odontológica,
disse.
Sabina considerou um grande desafio dar andamento à pesquisa. “Foi um
trabalho interdisciplinar no qual tive que estudar o comportamento
ósseo e biocompatibilidade do material”, comentou. Em outras palavras, o
novo osso sintético deveria ser projetado para atender as
características mecânicas necessárias para cumprir a função desejada e
pelo tempo que for necessário.
Neste caso, deveria se atentar para que o novo material não fosse
rejeitado pelo organismo e sim tolerado pelas células dos tecidos
animais.
Intitulado de “Desenvolvimento de bionanocompósitos Poli(álcool
vinílico)-Poliuretano/Hidroxiapatita para enxerto maxilo facial”, o
estudo da professora Sabina deveria, no primeiro momento, ser utilizado
apenas para o tratamento de enxerto maxilo facial. “Mas depois se
concluiu que pode ser usado em qualquer parte do esqueleto”, atentou a
professora.
Resultado positivo já no dia seguinte ao implante
O processo de fabricação do novo osso sintético é todo feito em
laboratório a partir das misturas das substâncias hidroxiapatita, poli
(álcool vinílico) e poliuretano. No primeiro momento, foram feitos
testes de resistência por compressão. Em seguida, foram os testes in
vitro – nos quais se verificou se o biomaterial possuía propriedades
citotóxicas, ou seja, nocivas às células e aos tecidos do corpo onde
elas seriam inseridas.
Após as conclusões positivas, o estudo partiu para a etapa dos testes
in vivo, onde foram utilizados ratos wistar. Os animais foram
submetidos a uma cirurgia na qual se retirou um pedaço da calota
craniana e num deles foi inserido o osso sintético. “Escolhemos a calota
craniana porque a formação tem a mesma origem biológica da
maxilofacial”. Também foram implantados no subcutâneo da parte dorsal
dos ratos para verificação de adesão muscular, ressaltou Sabina.
RESULTADOS
Os resultados foram considerados excelentes já no primeiro dia após o
implante. “O osso sintético preenchido na calota craniana promoveu
crescimento celular indicando sinais de integração à estrutura óssea. E
em sete dias, começou a se verificar a regeneração dos tecidos naquele
local”, enfatizou a pesquisadora.
Ela ressaltou que as substâncias utilizadas no novo osso sintético
são absorvidas pelo organismo e o que não é aproveitado é excretado.
Isto implica em mais um ponto a favor do biomaterial, uma vez que, ao
ser implantado, não necessitará de uma segunda cirurgia para retirá-lo,
como ocorre em alguns casos de implante de platina, por exemplo.
Humanos
Questionada se o biomaterial, ou osso sintético, poderá ser utilizado
por humanos, Sabina destaca que é necessário fazer mais uma série de
testes para começarem a ser feitos os testes clínicos (em pessoas). “É
preciso mais estudo e precisamos de mais tempo para responder isto”,
destacou.
“Os primeiros resultados já indicam que o material é excelente e promissor para ser usado em humanos”, afirma.
O estudo da professora foi defendido em julho do ano passado e
somente agora pôde começar a ser divulgado. A demora se deve ao processo
de patente da pesquisa.
(Diário do Pará)
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