terça-feira, 16 de julho de 2013

“O povo nas ruas expõe mazelas do governo do PT nos últimos 10 anos”


Senador tucano acusa Lula e Dilma pela crise de gestão por que passa o País e responsabiliza o governo Siqueira Campos pela incompetência administrativa no Tocantins
Fonte: Agência Senado da Republica do Brasil
Ruy Bucar
Ele é um dos principais responsáveis pela volta de Siqueira Cam­­pos (PSDB) ao poder. Foi um dos primeiros empresários a botar dinheiro na campanha e apostar na reabilitação do velho líder. Em menos de três anos o empresário e hoje senador Ataídes Oliveira (PSDB) mudou completamente de opi­nião. De admirador e eventual colaborador de Siqueira, Ataídes se transforma em duro crítico do governo tucano. “Ele disse que estava voltando para tomar conta desse povo sofrido, infelizmente esse povo continua sofrido e isso me deixa muito triste”, declara o senador decepcionado com os resultados da gestão estadual.

Ataídes Oliveira avalia que Siqueira Campos deixou passar da hora de tomar decisões importantes e perdeu a oportunidade histórica de coroar a carreira com um governo exitoso e agora corre o sério risco de encerrar a carreira com um governo que beira o desastre. “Aqui também a máqui­na está extremamente inchada: são 21 secretarias de Estado, 19 órgãos de autarquia com status de secretaria, nós temos quase 15 mil cargos de comissionados, a folha de pagamento desse Estado é de R$ 3 bi­lhões por ano, inclusive infringindo a Lei de Respon­sa­bilidade Fiscal e o governo do Es­tado sabe que isso é cri­me”, alerta o senador citando ou­tro dado preocupante, o da dívida interna que já ultrapassa R$ 2 bilhões.

Atento às manifestações de rua que sacudiram o País, o senador avalia que os protestos ajudaram a revelar as contradições do governo do PT e apressar as mudanças. “O povo quer coisas efetivas, o povo sabe que não tem investimento em infraestrutura, que não tem logística, não tem saneamento básico, que a nossa saúde está na UTI, que a nossa segurança não existe mais, educação extremamente precária, a corrupção campeia os quatro cantos dessa nação.” O sena­dor diz que se a se presidente Dilma não for ágil e competente na resposta, não sabe como o seu go­verno pode terminar.
Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção o senador fala da infância pobre no interior do Tocantins, seu pai era meeiro (lavrador sem terra), da conquista da independência econômica como empresário bem sucedido na área da construção civil. Fala, também, da decepção com a política. Revela que pensou em abandonar a carreira diante da ineficiência do Congresso Nacional, mas que se sentiu revigorado depois das ma­nifestações de ruas que, segundo ele, fizeram eclodir o Brasil real que exige mudanças e pede res­peito com o dinheiro público.
O sr. fez pronunciamento no Senado cobrando agilidade do governo em atender os apelos das ruas. Como atender pauta tão difusa sem consenso nem mesmo entre os manifestantes?
Vi na tribuna de­ze­nas de companheiros, senadores, de­putados, ministros, presidente da República dizendo que essa manifestação é linda e maravi­lhosa; que é um direito do povo brasileiro e que isto é democrático. Eu faço uma colocação a priori, que é democrático e é de direito do nosso povo, isso já está claro na Constituição, que é lindo e maravilhoso o povo ir às ruas, deixar o seu lar. Eu lamento, porque vão as ruas correr riscos para reivindicar direitos que já são seus constitucionalmente; por este lado lamento que por forças das circunstâncias essas pessoas sejam obrigadas a largarem seus lares e irem às ruas. Por outro lado eu estou muito contente, porque se o povo não se manifesta, neste País iria continuar essa verdadeira mazela com o dinheiro público. O PT brincou com isso nesses últimos dez anos. E respondendo à sua pergunta, os mais de 2 milhões de pessoas nas ruas e os brasileiros que não foram às ruas se coadunaram com essa manifestação, inclusive eu. Não adianta agora vir com discursos bonitos, isso que a presidente Dilma fez, foi à televisão dizendo que vai fazer isso e aquilo, que vai requerer um plebiscito, isto é enganação. Esse plebiscito, por exemplo, é para desvirtuar essa manifestação linda do povo brasileiro, mas a presidente está enganada, porque o povo quer coisas efetivas. O povo sabe que não tem investimento em infraestrutura, que não tem logística, não tem saneamento básico, que a nossa saúde está na UTI, que a nossa segurança não existe mais, educação extremamente precária, a corrupção campeia os quatro cantos dessa nação. O povo sabe disso e quer agora medidas concretas; mas a Dilma não é culpada disso sozinha não, prefeitos são culpados, governadores são culpados, Con­gresso Nacional é culpado, poder Judiciário é culpado, nossos tribunais de contas são culpados, então é o todo. O povo quer coisas concretas e se a nossa presidente da Repú­blica não for à televisão em cadeia nacional e aparecer com coisas concretas sem engodos, sem enganação, eu não sei qual será o fim desse governo corrupto do PT.
O que de concreto o governo precisa adotar de imediato para começar a dialogar e ganhar credibilidade e confiança para realizar as mudanças?
Eu chego a simplificar, salvo o melhor juízo, eu simplifico a razão maior dessa manifestação da sociedade brasileira em uma palavra só: respeito. Respeito com o povo brasileiro, respeito com a coisa pública, respeito da administração com o dinheiro público, eu resumo nisso e até explico melhor: por exemplo, em 2002 a folha de pagamento da União era de R$ 64 bilhões, no go­verno do PT nestes dez anos, a folha de pagamento foi para R$ 215 bilhões; a dívida interna do Brasil em 2002 era de R$ 641 bi­lhões, hoje essa dívida ultrapassou os R$ 2,1 trilhões, ou seja, só esses dois números nos últimos dez anos quadruplicaram e para onde foi esse dinheiro? O povo brasileiro sabe disso, para onde foi esse dinheiro, essa diferença de quase R$ 1,5 tri­lhão? Esse dinheiro não foi para a educação, não foi para a saúde, não foi para a segurança, não foi para a infraestrutura, não foi para o saneamento básico, não foi para logística e outros tantos investimentos necessá­rios. A presidente Dilma e Lula têm que explicar para o povo para onde foi esse dinheiro, eles têm a obrigação de explicar. E digo mais, Lula em 2007 disse que eles pagaram a dívida externa (do Brasil) ao FMI. Na época, eu só cuidava dos meus negócios e pensei que maravilha isso, mas ele não pagou a dívida externa com os recursos públicos, ele enganou o povo. Pegou empréstimo da dívida interna, tomou dinheiro emprestado internamente para pagar o externo com juros três vezes maiores, foi apenas uma jogada política que Lula fez, que nisso ele é realmente PhD, e hoje a nossa dívida externa já voltou ao patamar de R$ 200 bi­lhões. Para onde foi esse dinheiro? Até onde eu sei, nós temos 39 minis­té­rios hoje, temos quase 30 mil cargos comissionados neste país, a folha de pagamento da União, co­mo eu disse, ultrapassou os R$ 215 bi­lhões. Se o governo federal for pa­gar hoje parte da dívida, mais juros, mais a folha (pagamento) isso já che­ga à casa dos 65%, 70% da arreca­dação nacional, que este ano deve atingir R$ 1,2 tri­lhão, imagino eu. Ou seja, esse di­nheiro foi mal aplicado, abusaram do dinheiro do povo. Essa manifestação eu vejo dessa forma, eles querem respeito acima de tudo e boa gestão com o dinheiro público.
O que o sr. está dizendo é que o Brasil vive uma crise de gestão por incompetência do governo do PT?
Isso eu afirmo. O governo FHC debelou aquela maldita inflação, colocou este país nos trilhos. Prova disso é que Lula chegou e encontrou rios de dinheiro em caixa e fez festa com esse rio de dinheiro. E se há um culpado é o governo central, evidentemente, é claro que nossos gestores com as exceções, têm as suas participações também nos Estados, o Congresso tem uma grande culpa, o nosso poder Judiciário, que em muitos casos permite a impunidade. Graças a Deus, hoje o ministro Joaquim Barbosa, presidente da Suprema Corte, tem feito um trabalho maravilhoso, diferente de outros. Mas a grande culpa é do chefe maior, ou a nossa chefa maior de Estado, a presidente Dilma. E eles têm que explicar ao povo brasileiro. Eu estou muito preocupado porque o povo não vai parar, ninguém foi pra rua para escutar agora conversinhas, balelas na televisão, essa é a leitura que eu faço. Essa história de passagem de ônibus foi só o estopim, o problema é muito mais grave, então a Dilma tem que explicar o que vai fazer com a saúde, a segurança, a educação e com os investimentos desse país. O Brasil parou de crescer e olha que nós pegamos uma bolha há pouco tempo.
A reforma política pressionada pela vontade popular desta vez sai? E o que pode sair de reforma votada nestas circunstâncias?
As reformas nesse país são um grande entrave ao longo dos anos para o crescimento dessa nação. Esse país é maravilhoso, é au­tossustentá­vel praticamente em tudo, mas as reformas políticas que o Congresso Nacional teria que fazer há anos nunca foram feitas, a reforma tri­butária, a reforma previdenciária, a reforma trabalhista e a reforma política, que é mãe de todas as reformas. Esse projeto está engavetado no Congresso Nacio­nal, o que está faltando é apenas vontade, é querer, tirar e votar, ponto final.

O que vai mudar com a reforma?
Eleições acontecem de dois em dois anos neste país, isto é um prejuízo para a nação, que não tem tamanho para tanto. Só para se ter uma noção de quanto custa uma eleição, só esse plebiscito, que eu acredito que não vai acontecer [a Câmara dos Deputados derrubou a ideia na terça-feira, 9], custará aos cofres públicos algo em torno de R$ 500 milhões. Então o custo de uma campanha eleitoral é enorme, começa por aí. Segundo, os nossos políticos estão sempre em campa­nha, olha um exemplo, o go­vernador acaba de ser eleito e quando senta na cadeira a primeira preocupação é que daqui a dois anos tem eleição para vereadores, prefeitos e que ele tem que fazer prefeitos e verea­dores. Então com dois anos de mandato ele entra na campanha de prefeitos, quando termina essa campanha ele analisa o que conseguiu e já parte para campanha à reeleição e no último ano de governo ele não trabalha, fica somente em campanha. E vou acrescentar que sou extremamente contra a reeleição. Então tem que acabar com isso, deve haver coincidências de mandatos, ou seja, de vereador a presidente da República uma só eleição, isso será magnífico para a nação. Terceiro, que esse mandato seja de cinco anos, eu acho quatro pouco e sugiro cinco anos e o fim da reeleição. Quarto, o financiamento privado de campa­nha, que é o maior engodo, a maior enga­na­ção. Eu sou empre­sário e digo que o empresário hoje que administrar bem o seu negócio terá uma rentabilidade líquida ao final do ano de 3% a 6%, como é que o em­presário então bancará a campanha de determinado candidato designando 20%, 30% do seu faturamento, do seu caixa 2? Isso não é di­nheiro desse empresário, é di­nheiro público. Por exemplo, um empreiteiro que já presta serviços há muito tempo a um Estado, ele já fez o seu caixa, na contabilidade dele tem uma rubrica com a verba destinada à campanha seguinte e essa rubrica com esse dinheiro é de obras superfaturadas, não há dúvida nenhuma disso. Quando chega então a eleição ele pega esse dinheiro do superfaturamento e “doa” a esse candidato à reeleição, portanto, o di­nheiro não é deste empresário, é di­nheiro público. E um empreiteiro que ainda não pegou obra nenhuma e quer entrar no sistema? O governo chega e pede dinheiro a ele, ele diz que vai dar R$ 1 milhão, mas quer receber R$ 10 milhões depois, e esses R$ 10 milhões que o gestor pagará é dinheiro do povo. Então eu resumo o financiamento privado de campanha, vindo principalmente das empresas, é dinheiro público e não privado.
É possível imaginar até onde vai essa movimentação das ruas e o que trará de mudanças para o país?
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), está desesperado, está colocando tudo em votação. Olhe que coisa interessante, só que tudo que foi votado até agora não resolve o problema do povo. Claro que derrubar a PEC 37 foi maravilhoso, essa história da corrupção (crime hediondo) muito boa, mas isso não resolverá o pro­blema do país e as reivindicações do nosso povo. A presidente Dilma está desesperada, está na televisão falando bobagens uma atrás da outra, ou seja, resultado disso é que os governos estaduais, municipais já acenderam a luz vermelha, não é nem amarela mais, então o resultado já aconteceu, mas não basta. O povo brasileiro quer agora e não dará tempo aos nossos gestores, aos nossos governantes. A população quer medidas con­cretas, efetivas e imediatas, quer saber quando e quanto de dinheiro se vai investir na educação, na saúde. E o povo quer principalmente respeito e ele não vai abandonar as ruas enquanto não tiver isso.
Em relação ao Tocantins, qual a repercussão do sentimento das ruas na política do Estado?
Esses quase 30 mil tocantinenses que foram às ruas, especialmente aqui na capital, não foram para reclamar simplesmente do governo federal, foram para reclamar especialmente do governo estadual. E eu estou muito triste com o nosso governo. Até então tenho me mantido calado, observando, aguardando que o governo estadual realmente fosse fazer algo de concreto para esse Estado, mudar o quadro do passado, mas olhe só esses núme­ros, aqui também a máqui­na está extremamente inchada: são 21 secretarias de Estado, 19 órgãos de autarquia com status de se­cretaria, nós temos aqui quase 15 mil cargos de comissionados, a folha de pagamento é de R$ 3 bi­lhões por ano, inclusive infrin­gindo a Lei de Responsabilidade Fiscal e o governo do Estado sabe que isso é crime. A dívida interna do Tocantins já ultrapassou os R$ 2 bilhões, o negócio é só tomar dinheiro emprestado, está errado. Se o governo hoje for pagar a dívida mais os juros são R$ 130 milhões, se pegar mais a folha de pagamento não sobra dinheiro então para a saúde, não sobra dinheiro para a educação, para a segurança, para a infra­es­trutura, para logística, para saneamento básico. A situação do governo do To­can­tins é caótica e extre­mamente preocupante. O governador Si­queira Campos tem que tomar medidas imediatas e essas medidas são “meter o facão” e cortar custos, tirar esses “mandruvás” de elites, estes que estão mamando na “teta” do governo, co­men­do o dinheiro do povo, a população não merece isso. Por que o go­verno tem que ter 21 secretarias? Por que o governo tem que dar um cargo de R$ 10 mil para aquele cidadão que o ajudou na política? Por que o povo tem que pagar por esses 15 mil cargos de confiança, sendo que eles não estão prestando serviço ao povo, com as exce­ções, evidentemente? Só para se ter uma noção, os EUA que têm um PIB de U$ 16 trilhões a 17 trilhões, que têm 300 milhões de americanos, possuem apenas 5 mil cargos de comissão. O Brasil tem 25 mil car­gos de comissão e o Tocan­tins tem 15 mil desses cargos comissionados. Não bate, está tudo errado. Esse cabide de emprego, esse dinheiro está sendo desvirtuado, e, além disso, vem a maldita, a perversa corrupção que tomou conta desse Estado e que todo mundo sabe, o povo do Tocan­tins sabe que a corrupção tomou conta disso aqui. E o povo quer o fim de tudo isso, quer respeito com o dinheiro dele. A manifestação foi um alerta muito grande ao nosso governador.

“O Sistema S faz farra com o dinheiro público”
O sr. poderia apontar onde está a corrupção ou má gestão dos recursos públicos no Estado?
A má gestão caminha juntamente com a corrupção, porque tem que ter competência, para administrar um Estado tem que ter competência. Eu acredito na competência do governador Siquei­ra, só não sei por que não foram fei­tas as coisas no momento certo. En­tão, primeiro, o gestor tem que ter competência porque não é fácil você administrar um município, um Estado. Agora a corrupção vem de todos os cantos, nestes oito meses que eu estou político eu pude observar que ela vem de todos os cantos, e não é só o desvio do dinheiro. Esses 15 mil cargos de confiança, por exemplo, isso é corrupção, você está pegando o dinheiro do povo e dando a alguém que não presta um serviço ao povo. A corrupção, para mim, eu vejo como um câncer em estado de metástase, ou seja, está em tudo quanto é coisa pública, lamentavelmente, não está só nas licitações, não está só nas obras, claro que ali se encontra um grande vo­lume, mas eu não diria que está somente ali, ela hoje está, repito, em estado de metástase isso é muito ruim, é muito triste.
O governo tem atribuído a herança de outros governos pelas dificuldades. Esse argumento explica a crise da gestão atual?
É inaceitável. Para mim é inaceitável. O povo não entende e também não aceita essa desculpa de que teve herança maldita, não. A fila anda, eu não vejo que a culpa de tudo isso seja de governos anteriores, claro que os governos anteriores contundentemente erraram muito, o nosso Estado vem sofrendo de longa data. Mas o que percebo no governo atual é que as medidas que deveriam ser adotadas imediatamente à sua posse não foram. Com as exceções, não formou uma equipe de qualidade, montou uma equipe de quantidade, mas não de qualidade. Eu lamento muito porque o governador Siqueira tem uma história bri­lhante neste Estado, se não fosse ele nós não estaríamos aqui agora conversando sobre o Estado. Ele é merecedor de muito respeito, mas eu estou triste com essa gestão. Fiquei aguardando até hoje que o governo Siqueira Campos realmente fosse mostrar ao povo do Tocantins, como ele disse a mim e ao povo, que ele estava voltando para tomar conta desse povo sofrido. Infe­lizmente, esse povo continua sofrido e isso me deixa muito triste.
É hora de o Tocantins repensar seu modelo de desenvolvimento?
Eu sou filho daqui, aqui eu passei fome quando criança juntamente com meus pais, família muito pobre, meu pai era meeiro no norte do Estado. Então eu conheço isso aqui igual à palma da minha mão. Em 2011, quando eu assumi pela primeira vez, pedi para um assessor que fizesse um levantamento das potencialidades do Estado: do solo, do subsolo, que a minha intenção é buscar empre­sários. Nós temos que pensar nisso, o grande problema desse Estado é o empresário. Então o meu assessor descreveu as potencialidades do Tocantins e eu peguei esse discurso, não tive tempo de ler e fui diretamente para a tribuna. E eu posso dizer que mesmo conhecendo o Tocantins como eu conheço, fiquei surpreso com a riqueza que tem este Estado, esse mundaréu de terras planas e férteis, esse subsolo que tem de tudo, não dá para descrever, mas são inúmeras riquezas. O que eu percebo é que o nosso Estado precisa de gestão, as pesquisas mostram que o To­cantins politicamente é o pior ente da federação para investimentos, se é o pior como é que o empresário brasileiro virá investir nesse Estado? Aqui não temos mão de obra qualificada, não temos logística apesar de estarmos no centro do país. Aqui falta o mais importante, que é a parte política, o empresário não vem e nós sabemos que o empresário é a força motriz de uma nação, de um Estado. É o empre­sário que paga impostos, dá empre­go e distribui renda. E cadê os nossos empre­sários? Então se com toda essa potencialidade que existe no do Tocantins, rico em água, rico em tudo, nós somos banhados aqui por dois grandes rios (Araguaia e Tocantins), temos aqui vizinhos nossos sofrendo com seca e nós, graças a Deus, temos abundância de água, abundância de terra. Somos um povo bom e maravi­lhoso, o que nós precisamos aqui e precisa ser feito é mudar o quadro político, isso é necessário.

A movimentação das ruas ficou melhor para defender o seu principal foco de atuação no Senado, que é o combate à falta de transparência do sistema S?
O sistema S hoje recebe algo em torno de R$ 20 bilhões ao ano de tributos, benefício criado pelo artigo 149 da nossa Carta Maior, contribuições sociais, ou seja, isso é tributo e está pacificamente provado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e pela própria Consti­tuição que é tributo. Então neste ano deve receber R$ 20 bilhões de dinheiro público, sem transparência alguma, ninguém sabe nada sobre o sistema S. Em 2011, quando eu percebi que um dos gargalos da nossa economia é a falta de mão de obra qualificada e que o sistema S, criado há 70 anos com a finalidade exclusiva de qualificar a mão de obra e levar lazer e saúde, eu pedi então auditoria junto ao TCU e CGU, que são os órgãos que fisca­lizam as entidades Sesi, Senai, Sesc, Senac e outros. Fiquei estarrecido e resolvi escrever um livro denominado “Caixa Preta”, que hoje é de conhecimento de todas as autoridades e de grande parte do povo brasileiro. No livro eu exponho através das auditorias a situação do sistema S do Brasil. Pois bem, eu comecei a carregar essa bandeira com o intuito tão somente de aprimorar o sistema S e corrigir as suas enormes distorções. Como, por exemplo, a falta de transparência, a cobrança de cursos em valores exorbitantes sendo que teriam de ser gratuitos. Um exemplo: para uma senhora dona de casa aqui do Tocantins ajudar na renda familiar, se ela quiser fazer um curso de cabeleireira tem de pagar ao Sesc R$ 1,6 mil pelo curso, ela não tem esse dinheiro e não vai fazer esse curso. E o sistema S tem R$ 8 bi­lhões aplicados no mercado financeiro. São tantas distorções. O sistema S é um cabide de empregos, a folha de pagamento do sistema hoje já ultrapassou os R$ 5 bilhões, as licitações segundo as auditorias não seguem a lei 866/93, então é uma verdadeira farra com o di­nheiro do povo, as irregularidades vão de A a Z. Inclusive além do livro “Caixa Preta” eu tenho um anexo, outro livro que eu chamei de anexo, só de licitações, é caso de cadeia. Resumindo, a comutatividade de cargos, os gestores desse sistema estão nos cargos há 30, 40, 50 anos, nem se fala em nepotismo, se fala mais em direito sucessório, o cidadão já não dá conta mais pela idade passa para o filho, neto. Só para se ter uma noção de que eles perderam o respeito pelo dinheiro público que cai na mão deles, saiu na revista “Carta Capital” da se­mana retrasada ou passada, se não me falha a memória, o presidente do Sesc do Rio de Janeiro, Orlando Diniz, dá publicidade de que distribuiu R$ 3 milhões de lucros com 221 funcionários, entre eles a sua querida esposa Daniele, que recebeu a maior parte. Como é que distribui lucro com dinheiro público? Como é que distribui lucro uma entidade sem fins lucrativos? A coisa no sistema S é grave, eu requeri uma CPI, tenho muitas assinaturas, mas não consegui as 27 necessárias, eu disse que o sistema S hoje é um caso de intervenção nacional, o maior esquema de corrupção no Brasil hoje está dentro do sistema S porque são R$ 20 bi­lhões ao ano.
Como foi a repercussão da CPI no Congresso?
Eu imaginei a princípio, com a minha falta de experiência e com a minha vontade de aprimorar esse sistema, que fosse encontrar no Congresso Nacional uma resistência de 20% dos meus pares. Mas  me enganei, 90% do Congresso Nacional está pendurado no sistema S, 90% no mínimo. De que forma? Lá nós temos três sena­do­res que são presidentes de confede­ra­ções, um é ex-presidente de confederação, mas ele continua presidente da CNI, eu chego a colocar dessa forma porque ele é o representante legal, que é o senador Armando Monteiro. Mais dois senadores também são presidentes, então quem não é presidente, quem não é diretor, quem não é conse­lheiro, estou me refe­rindo a senadores, que não são conse­lheiros do sistema, que não tem as suas campanhas bancadas pelo sistema, que não tem empregos dentro do sistema está no sistema corporativo, ou seja, 90% do Con­gresso Nacional é sistema S. Eles mandam no Congresso Nacional. A partir daí pode-se perceber a dificuldade que tenho, quando vou para a tribuna não fica ninguém no Par­lamento, eu tenho testemunho disso, é só eu me dirigir à tribuna e pu­xar o tema sistema S não fica nin­guém, porque eles têm medo in­clusive que eu chame o nome de al­gum senador, lamentavelmente. Mas eu estou muito feliz, porque com essa movimentação acendeu es­sa chama, essa chama do não à cor­rupção e com isso agora as re­vistas, a imprensa que estava calada, a­gora não mais, as revistas “Época”, “Carta Ca­pital”, a própria “Veja”, os jornais co­meçaram a se manifestar em relação ao sistema S. Ou seja, eles não estão conseguindo calar a exigência de transparência do sistema S de jei­to nenhum. Eu estou feliz, tirei o fo­co um pouco, mas retorno na pró­xima semana. E  uma coisa muito in­teressante é que o presidente da Comissão Mista de Orçamento e o relator, que estava aqui em nos­so Estado, o deputado Da­nilo Fortes, nos convidou para uma audiência recentemente reali­za­da com os órgãos de fiscalização, um representante da CNI e a minha pes­soa. E fizemos um debate extraor­dinário e estamos levando para o corpo da LDO o sis­tema S, como en­trar no orçamento da União todo esse rio de dinheiro que até então nunca entrou, que ali dê transparência, são emendas minhas, que ali o fun­cionário seja contratado através de concurso, que obedeça a lei 866 (Lei das Licitações), a Lei da Ficha Lim­pa para os diretores e funcio­ná­rios do sistema S. Enfim eu estou contente porque percebo que a coisa começou a funcionar e eles estão desesperados.
Como vai ser a disputa em 2014 e onde o sr. se insere neste processo, será candidato a senador ou a governador?
Eu não sou um legislador, apesar de ter formação em Direito, eu sou um executivo, sou um empre­sá­rio, gosto de ver as coisas acontece­rem. E no Legislativo, infelizmente, não se vê as coisas acontecerem. Eu gosto de pegar um prédio, fazer a fundação, le­vantar esse edifício e entregar a chave aos condôminos, então eu sou um executivo. Em relação a 2014 eu percebo que muita coisa vai acontecer de diferente, surpresas virão por aí no quadro atual. Assim como nós tivemos uma surpresa na eleição para prefeito, o empresário (Carlos) Amastha começar com 1% e de repente é eleito e está aí como prefeito da capital, nós teremos uma surpresa. Agora, quanto a mim, ainda é muito cedo para dizer se sou candidato ou não, de repente o projeto da gente não é o projeto de Deus, se Deus achar e virar a minha cabeça de que de repente isso pode ser interessante quem sabe, não é? Vamos deixar os dias correrem e ver o que vai acontecer. Mas surpresas, eu não tenho dúvida, vão acontecer na eleição de 2014. É o que precisa.

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