domingo, 7 de julho de 2013

“Na terceira idade muitas travestis voltam ao armário”




Debate no Casarão Brasil, em fevereiro, falou sobre a vida de travestis idosas
por Neto Lucon

Ao chegarem na terceira idade muitas travestis voltam ao armário, voltam a ser e a se vestir como homens”, disse o psicólogo Pedro Sammarco Antunes (foto), durante o debate Travestis na Terceira Idade, mediado pela travesti Miriam Queiróz (foto centro), promovido pelo Casarão Brasil, no dia 18 de fevereiro. A afirmativa é justificada pelo preconceito duplo que sofrem - primeiro por serem travestis e depois por serem idosas – além de fatores como abandono, solidão...

Autor de um mestrado sobre o tema, Pedro declarou que, enquanto idosos não-travestis buscam o rejuvenescimento para se adequar aos moldes sociais (da eterna beleza jovem), as travestis geralmente só conseguem respeito quando passam pelo estereótipo da senhora e da velhice. “Caso ela se submeta às cirurgias de rejuvenescimento, ainda sofrerá preconceito por ser travesti. A sociedade tende a recriminar aquilo que foge dos padrões”, explicou.  


No debate, também esteve presente um senhor que declarou ter sido travesti por mais de 15 anos, trabalhando na Europa e deixando a vida feminina após a maturidade. O nome social é Mayara Clen dos Santos (foto ao lado): “O motivo de eu ter deixado de ser travesti é complexo, tem a ver com um amor da época. Também vi que aquilo não era muito bem o que eu queria mais”, resumiu. Hoje, Mayara tem cabelos curtos, pêlos que saem pela camisa e vestes masculinas. Os gestos, o olhar e a fala continuam delicados.

A realidade e o retorno ao armário de travestis assemelham-se com a de muitos homossexuais idosos. Em reportagem da revista Junior, edição 13, homossexuais com mais de 60 anos revelaram a difícil vida de quem necessita de serviços assistenciais, como asilos e albergues. Para não sofrer preconceito de outros moradores idosos (que fazem parte de uma geração mais conservadora), muitos escondem a sexualidade e o passado gay. A maioria dos abrigos de São Paulo sequer sabe responder sobre a sexualidade dos senhores.

A psicóloga Carolina Rodrigues de Carvalho, com a finalidade de mostrar outras trajetórias, declarou que muitas travestis idosas assumem o papel de mãe das mais novas. “Muitas são cafetinas, bombadeiras, fazem a iniciação de uma travesti”. Ela também ressaltou que devemos encarar a prostituição como uma profissão – “estamos falando do corpo e no direito de cada um” – mas que, tendo em vista que ser cafetina e bombadeira é ilegal, é necessário atentar os olhos para este grupo através de políticas públicas.

“Estamos vendo que para uma travesti na terceira idade as opções não são tão boas. Precisamos, portanto, de políticas públicas voltadas a elas”, afirmou Carolina.

COTAS PARA TRAVESTIS?Para suprir as necessidades da população travesti, foi discutido cotas e bolsas. Algumas pessoas manifestaram ser contra cotas, enquanto outras defenderam que é uma alternativa emergencial para o grupo que não teve acesso ao estudo.

Entre os discursos, destacamos: “O sistema de cotas não é para sempre. É um sistema emergencial para quem já não teve acesso à escola.” “É o governo assumir que existiu falhas com aquela população, afinal, travesti tem algum acesso a estudo, alguma chance no mercado de trabalho?” “Sabemos que as cotas não vão resolver os problemas, e que o problema está na base. Mas o que fazer para quem já passou dessa fase?” Pense...
Escrito por Flor do Asfalto às 02h01 PM



Em 02/02 o Departamento de Humanidades, por meio da Assessoria de Gênero realizou em parceria com a Sub Sede do ABC do Conselho Regional de Psicologia uma roda de conversa sobre travestis e transexuais, em comemoração ao dia da Visibilidade Trans, 29/01. O objetivo foi fomentar a discussão junto @s psicólog@s da região, haja vista esta ser uma temática que ainda enfrenta muitos tabus na profissão. Participaram profissionais de Santo André e Mauá em  roda de conversa muito enriquecedora, tendo como facilitador e debatedora, respectivamente,  Alexandre Peixe e Clara Cavalcanti.
Esta idéia foi das Psicólogas Janaína Leslão e Carolina Carvalho, que participam da Comissão de sexualidade e gênero da sede de São Paulo do Conselho Regional de Psicologia - CRP.
Esta parceria entre CRP e Prefeitura para discutir a diversidade sexual foi uma ação inovadora, a primeira de muitas outras.



2 comentários:

  1. Sou transexual não operada, e não gostaria de ter que voltar ao armário na minha terceira idade, hoje aos 36 anos, sou funcionária pública municipal. Tenho minhas dificuldades em relacionamentos pois o homem me vê como velha para viver suas aventuras. Ainda hoje somos vistas como aventuras amorosas, e a terceira idade para a vida transexual não se encaixa nessas aventuras, tanto por parte de homens quanto das próprias travestis e transexuais.
    O preconceito é geral de ambas as partes, pois ainda somos vistas como objetos de desejos e não, sentimentos, por parte da maioria dos homens.

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