É difícil, mas necessário. Atitude liberta, resolve pendências e abre caminho para as coisas da vida.
Perdoar
sempre foi uma das maiores dificuldades nos relacionamentos. Afinal,
lidar com sentimentos de indignação, raiva e rancor é um verdadeiro
desafio para qualquer um. E o fato de muita gente não se abrir para
perdoar de verdade só piora tudo. Mário Velloso, advogado e autor do
livro "O perdão que não vem" (7 Letras, 2008) lembra que não adianta
perdoar só "da boca para fora" ou simplesmente agir como se tivesse
perdoado o outro. "O perdão não se mede, não se detecta por um sorriso
ou uma palavra, desvinculado da atitude interna de realmente entender o
que foi feito. Você não precisa concordar ou aplaudir a ofensa, apenas
conviver com a tal afronta de uma forma pacífica, sem revanchismo, sem
mágoa", afirma.
Provavelmente,
se algumas pessoas reconhecessem como perdoar faz bem, iriam se
esforçar mais para isso. Não é à toa que sentimos um alívio danado
quando liberamos o perdão para alguém; é a resolução de algo que ficou
no ar. Nas palavras do autor, "você se livra de uma pendência que
atormentava, abre caminho para seu progresso - seja material ou
espiritual, e passa a ter uma consciência mais leve, mais fluída".
Além
de proporcionar a sensação de paz, de alívio, perdoar pode até nos dar
mais tempo livre para pensar nas coisas boas da vida, a família ou
amigos. "Enquanto estamos num processo de embate, de confronto, de
litígio aberto, vamos nos acostumando a preencher os intervalos das
coisas palpáveis que fazemos (tomar banho, comer, trabalhar, dirigir)
com pensamentos ruins e destrutivos, que não nos levam a lugar nenhum",
observa Mário.
A
chave para conseguir dar o passo para perdoar é não se importar com a
reação de quem nos prejudicou. Afinal, essa pessoa pode nos ignorar,
continuar nos ofendendo e até zombando de nossa atitude. Aí é a hora de
pensarmos: será que isso faz alguma diferença? Em grande parte, não faz.
Mesmo que o outro não aceite nosso perdão, poderemos desfrutar de uma
vida mais leve e, de nossa parte, a situação estará resolvida. "Ao
perdoar, você mostra ao outro que está tomando uma atitude elevada, e o
convida a trabalhar uma divergência num patamar superior. Um dia, quem
sabe até pela reiteração do perdão, ele há de perceber que a solução
conciliatória é vantajosa para todo mundo", acredita o advogado.
Sociedade estimula o revide, diz escritor
Mas
então, se perdoar é bom para todos, por que temos tanta dificuldade para
tomar essa decisão? Bom, nossa sociedade em geral não estimula tal
ação. Pelo contrário, parece que voltamos aos tempos em que a lei era
"olho por olho, dente por dente". Muitas vezes, quem perdoa algo grave,
por exemplo, é tido como "bobo".
Quando
somos ofendidos, sempre vem alguém e cobra um revide, uma vingança
nossa. "Isso não ajuda ninguém, e acaba por deixar o perdão como uma
forma de solução ‘de segunda linha’, o que é errado", diz o escritor
Mário Velloso. Na verdade, ele deveria ser nossa primeira escolha.
Mário
vê ainda o perdão como um processo, com várias fases: da indignação,
por vezes da vergonha, passando à raiva, ao ódio mortal, ao desejo de
vingança, entre outras. Não dá pra superar tudo isso do dia para a
noite. Portanto, às vezes precisamos de um tempo para perdoar
sinceramente.
No
geral, pedimos perdão porque ficamos com um fardo imenso e pesado ao
descobrir que erramos. As coisas pioram bastante se machucamos uma
pessoa frágil, que não sabe lidar com isso, ou alguém que amamos.
Seja
lá o que aconteça depois do perdão, "sem dúvida seu horizonte ficará
mais otimista. Tem tudo para melhorar um relacionamento travado, e é um
passo importantíssimo, próprio de quem está mostrando que quer caminhar,
quer evoluir e deixar bons exemplos de vida", diz o advogado. Mas, não
se iluda. "No campo de batalha, lidar com situações-limite é
extremamente difícil, sofrido e penoso. E ali, na agonia do real, não há
regra nem recomendação que prevaleça. Apenas, quem sabe, pensar um
pouco mais no assunto contribua para encher uma esquecida gaveta do seu
coração com uma munição do bem. Nunca se sabe quando precisaremos dela",
completa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário