Há
três anos, quem perguntasse à Nanci Venturini qual era a doença mais
temida por ela, teria como resposta um gesto seguido por duas palavras:
as mãos protegeriam o peito e ela diria "câncer de mama". Esta doença é,
de fato, perigosa quando não tratada a tempo, vitima 52 mil mulheres
por ano e está no foco das campanhas mais variadas entidades. Mas não é
exclusiva entre os perigos cancerígenos. O cuidado preventivo só com
este tipo de tumor pode tornar invisível outros cânceres que também
ameaçam às pacientes e são até mais letais.
Nanci,
39 anos, por exemplo, sequer imaginou que, além das mamas, outras
regiões do organismo pudessem estar vulneráveis. Mas, desde 2011, ela
faz parte das 6.190 mulheres que anualmente adoecem por causa do câncer
no ovário, de acordo com o censo do Instituo Nacional do Câncer (Inca).
"O
câncer de mama é o mais temido porque é mesmo o mais recorrente entre
elas. Ao longo da vida, uma em cada nove mulheres terá a doença",
explica Glauco Baiocchi Neto, diretor de ginecologia do Hospital AC
Camargo, uma das referências nacionais no tratamento. Segundo ele, a
alta incidência faz com que as mulheres acabem se esquecendo de outros
tipos de câncer que também são numerosos e, alguns, totalmente
evitáveis.
"O
câncer de colo de útero é um dos exemplos. Todas as lesões
pré-cancerígenas no útero podem ser tratadas, mas ainda são 18 mil novos
casos por ano, com quase 5 mil mortes de mulheres", exemplifica
Baiocchi, ao completar a lista com outros tipos de tumores quase não
lembrados no foco da prevenção.
Entre
os cânceres mais incidentes, diz o médico, estão os de endométrio e o
de vulva. "O câncer no endométrio, o câncer na vulva, o câncer de cólon e
no reto também são esquecidos pelas pacientes. Há ainda o câncer de
ovário que tem uma particularidade: diferentemente dos outros, os exames
preventivos ainda não são tão eficientes para o diagnóstico precoce.
Por isso, é preciso alerta dos médicos e também das mulheres para buscar
as intervenções o mais rápido possível", afirma.
Nanci
Venturini atesta a dificuldade em detectar precocemente o câncer de
ovário. Ela faziamamografias e ultrassonografias transvaginais
anualmente, como preconiza a cartilha dos bons cuidados preventivos.
Apesar dos resultados não indicarem nenhum sinal de problema, o corpo,
há tempos, dava sinais de que as coisas não andavam bem.
"Todas
as dores abdominais, o desconforto após as refeições, a sensação de
barriga estufada, o funcionamento irregular do intestino que eu
enfrentava há meses, eu coloquei na conta do estresse e do excesso de
trabalho", lembra Nanci, que trabalha como assessora na reitoria de uma
universidade em São Paulo.
Quando
finalmente procurou o hospital por acreditar estar "estafada", a
biópsia revelou que existia ali no ovário esquerdo um tumor maligno já
em estágio crítico, quase na última ponta da escala que mensura o avanço
da doença.
Nenhum comentário:
Postar um comentário