sexta-feira, 19 de abril de 2013

Ex-jornaleiro encontra "tesouros" em meio ao lixo


Ex-jornaleiro encontra 'tesouros' em meio ao lixo (Foto: Daniel Pinto)
Na época do descartável, o velho torna-se supérfluo. Sem utilidade e valor livros antigos, televisão fora de linha, máquinas fotográficas e gibis são diariamente jogados fora. Contudo, o que não tem valor para alguns, para outros são verdadeiros tesouros, como para o reciclador Cincinato Azevedo de 61 anos. 
Quem diria que a primeira máquina fotográfica fabricado no Brasil da Kodac, modelo “Rio 400”, seria encontrado no lixo. Verdadeira relíquia para os colecionadores. Outro tesouro é o livro de matemática de 1931 do professor Cecil Thiré. Catedrático teve seus livros aceitos em todo o Brasil durante décadas. Este e outros objetos estão amontoados na casa do senhor Cincinato, também conhecido como Nato. “As pessoas não tem noção que esses objetos carregam um valor histórico”.
Nato é reciclador há mais de quinze anos. Ex-jornaleiro, não se conforma com a ideia das pessoas jogarem fora objetos e livros em bons estados de uso. A casa onde mora está tomada de artefatos que encontra pela rua como cadeiras, dicionários, mesas, armários, fita cassete, fotos. “O que mais encontro pela rua e nos lixos é dicionários de português e língua estrangeira. Estou cheio deles na minha casa”, fala lamentando-se diante da situação que a educação vive atualmente.
RECICLAR É PRECISO
Um dos grandes desafios do mundo moderno é a capacidade de reutilizar produtos que hoje são jogados fora. Nato tem consciência do trabalho que desenvolve, mas diz que encontra obstáculos para desenvolver a atividade. “São poucos os moradores sensíveis ao esforço do reciclador”, e argumenta: “A reciclagem é o único caminho para as cidades, pouco importa o tamanho da região. Em breve não haverá mais espaços para tanto lixo e objetos descartados. As prefeituras amenizariam o problema reservando áreas para o descarte de livros, aparelhos elétricos e eletrônicos e tudo o que pudesse ser reaproveitado em pouco tempo”.
Na casa dele não há mais espaço, parou de recolher objetos há seis meses. O espaço que ainda resta é um estreito caminho para a entrada da casa. Só de bonecas e Nato conta que tem mais de sessenta. Ursinhos quase uns quarenta de variados tamanhos: grandes, enormes, pequenos, médios e diz inconformado. “Antes de jogar fora uma boneca, por que não doar para uma criança? Tanta criança na rua precisando de um brinquedo. Isso é uma questão de humanidade antes de tudo, de amor ao próximo”, afirma.
Antes de ser reciclador e ex-jornaleiro, Nato vendia livros na Praça da República. Homem articulado e bastante comunicativo chegou a Belém na década de 1980. Diz que hoje é mais paraense do que carioca. Músico e poeta conhece o valor dos vários livros que encontra. “Eu encontrei esse livro [mostra o livro de ‘Os Lusíadas’, de Camões] no lixão e perto dali tem uma escola, vai ver se na biblioteca dessa escola tem um livro desses?”. 
Na casa dele há vários livros de biografias de personalidades de escritores, artistas e políticos do Brasil e do Mundo como do escritor Oscar Wilder. Gibis da turma da Mônica têm oitenta, além de postes de bandas de rock como do Guns ‘N’Roses e uma curiosidade, um livro do Harry Potter todo em japonês. Outra curiosidade encontrada por ele são dois diários pessoais. Autobiografias contadas com muita imaginação e criatividade. Um deles é o diário de Burke, um jovem que conta sua vida através de quadrinhos de faroeste. No diário pessoal para cada membro da família há um nome americano. Um dos trechos diz, “Eu adoro os filmes de faroeste”, eis a explicação para contar os dramas e alegrias da vida pessoal por meio das aventuras de um caubói imaginário.
“Essa história dava um filme”, conta Nato em meio aos livros que recolhe.
(Diário do Pará)  Sexta feira - 19/04/2013

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