Apagado
"Ele entra mudo e sai calado" do Congresso, constata um peemedebista
"Ele entra mudo e sai calado" do Congresso, constata um peemedebista
O
esforço do senador Jader Barbalho para passar despercebido no Senado,
no qual não fez um discurso sequer desde que conseguiu uma brecha na Lei
da Ficha Limpa para ser empossado no lugar da ex-senadora Marinor
Brito, uma das mais atuantes do Congresso, chamou a atenção da
reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo", que publicou em sua edição
de domingo, 4, e também no portal Estadao.com.br, a reportagem
intitulada "Discreto e calado, um novo Jader no Senado", na qual mostra
como é a rotina do parlamentar chegou a ocupar a presidência do
Congresso, e justamente nesse momento, teve reveladas a lances de seu
passado que o obrigaram a renunciar ao cargo, para não ser cassado, tais
como desvios de recursos do Banpará, quando foi governador do Estao; e
fraudes no Ministério da Previdência Social, quando foi ministro, e na
Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Recentemente,
Jader foi condenado pela Justiça Federal do Tocantins, por ter sido
beneficiado financeiramente por desvio de recursos da Sudam.
Motivos
não faltam, portanto, para que o ex-poderoso parlamentar queira passar
despercebido em sua volta ao Senado. É o que diz a reportagem: "Sem o
poder que dispunha antes da renúncia e da prisão, peemedebista vai pouco
ao Congresso, evita imprensa e até agora não apresentou projetos."
Segundo o repórter Ricardo Brito, da reportagem do Estadão em Brasília,
"Jader Barbalho chega ao plenário do Senado e se acomoda em uma das
poltronas reservadas aos parlamentares do Pará, na terceira fila, do
lado oposto à tribuna de imprensa onde se aglomeram os jornalistas.
Taciturno, faz acenos discretos para colegas e vota como manda sua
bancada, a do PMDB. Em seguida, deixa o plenário com a discrição que se
impôs desde que retornou ao Senado, dez anos após deixar o comando da
Casa e renunciar ao mandato para não ser cassado na esteira das
denúncias de corrupção que o envolviam."
A
reportagem informa que nos 19 meses do atual mandato, o senador
paraense, de 68 anos, em nada lembra uma a lideranças que teve nas
décadas de 80 e 90, quando foi duas vezes governador do Pará, e esteve
sempre ao lados dos presidentes de plantão, independentemente da
ideologia, já que o que o que importava é obter cargos importantes dos
quais pudesse tirar vantagens. Assim, foi duas vezes ministro do governo
Sarney (1985-1990), presidente do PMDB e do Congresso na gestão
Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e gozou de influência também no
mandato Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), quando apadrinhou as
indicações dos presidentes da Eletronorte, Jorge Palmeira, e da
Eletrobras, José Antonio Muniz. Sob Dilma Rousseff, Muniz foi rebaixado a
diretor de transmissão, numa mostra de perda de influência do
peemedebista.
SEM PROJETO
Até
o momento, Jader não apresentou nem relatou uma proposta legislativa
sequer. Não fez um discurso em plenário e não integra nenhuma comissão
temática do Senado. No ano passado, foi apontado pelo site Congresso em
Foco como o campeão das faltas: só esteve em 69 das 126 sessões de
votação. Em fevereiro, pediu para integrar a Comissão de Assuntos
Econômicos, mas, após faltar a todas as 17 reuniões, acabou substituído.
Nas
reuniões da bancada do PMDB, em que o partido fecha questão sobre
determinados projetos, raramente aparece, segundo relato de seis
senadores do partido entrevistados pelo Broadcast Político do Estadão.
Há quem nunca o tenha visto. "Entra mudo e sai calado", afirmou um
peemedebista que só o cumprimenta protocolarmente. Tampouco fez novos
amigos, segundo relato de oito senadores do PMDB e quatro de outros
partidos.
"Não vou palpitar sobre a atuação
dele", disse o senador Pedro Taques (PDT-MT), que integrou como
procurador da República uma força-tarefa que levou Jader à prisão em
fevereiro de 2002. Os dois nem sequer se cumprimentam.
SEM HOLOFOTES
O
senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), que não participa das reuniões da
bancada, disse que o vê com frequência bem cedo, na hora de registrar
presença em plenário e durante as votações. "Ele fez uma opção de não
ficar sob os holofotes", opina Jarbas. Segundo pessoas próximas, Jader
tem por hábito conversar com a trinca José Sarney (AP), Romero Jucá (RR)
e Renan Calheiros (AL).
Romero Jucá é o único a
defender a atuação de Jader. "Ele tem tido um mandato mais ligado ao
Pará", justifica. Aliados dizem reservadamente que o senador está
preocupado com o futuro político do seu clã - um de seus planos é fazer
um dos filhos, o ex-prefeito de Ananindeua, Helder Barbalho, governador
do Estado em 2014.
Jader já gastou cerca de R$
292,6 mil com uma empresa responsável por divulgar sua atuação
parlamentar numa página da internet. Detalhe: boa parte das informações
do site são colagens de reportagens do jornal da sua família, o Diário
do Pará. A propósito, Jader inovou na resposta a seu único desafeto
declarado na Casa, o senador tucano Mário Couto (PA). Os demais colegas
receberam em seus gabinetes reportagens do Diário contra o tucano, que
havia feito pronunciamentos acusando Jader de ter patrimônio oculto,
fruto de desvios da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia
(Sudam).
DENÚNCIA
Na
terça-feira, 30 de junho, o procurador-geral da República, Roberto
Gurgel, denunciou Jader em um dos quatro inquéritos a que ele responde
no Supremo Tribunal Federal (STF). No Senado, o peemedebista ainda é o
campeão de ações penais - responde a cinco. Seu advogado, Eduardo
Alckmin, disse que a nova acusação "é um pouco mais do mesmo".
Atribuiu-se a ele, segundo o defensor, a indicação de um superintendente
que teria praticado desvios bilionários na Sudam. O advogado nega.
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