Segundo a Sema empresa que estava autorizada para atuar na região não tinha o propósito de comercializar a sua produção.
Confirmando
informação divulgada ontem (20) pelo Diário do Pará, a Secretaria de
Meio Ambiente do Estado revelou ontem, em coletiva de imprensa, a
descoberta de uma megafraude envolvendo um plano de manejo numa área de 5
mil hectares, no município de Anajás, na ilha do Marajó. Na conversa
com os jornalistas, o secretário José Alberto Colares disse que as
equipes de fiscalização da Sema continuam em campo e anteviu, sem entrar
em detalhes, que em breve a imprensa receberá notícias da detecção de
novos esquemas fraudulentos. Neste caso do Marajó, a empresa Tecnoflora,
controlada pelo engenheiro florestal Eduardo Eguchi, recebeu da Sema,
no ano passado, autorização para a retirada de 150 mil metros cúbicos de
madeira. Segundo José Alberto Colares, o projeto foi aprovado porque a
empresa respondeu a todas as exigências jurídicas, técnicas e fundiárias
estabelecidas pela legislação. “Tecnicamente, a empresa estava em
situação legal e apta a explorar (o plano de manejo)”, afirmou o
secretário.
O problema não aconteceu, portanto, conforme destacou o titular da
Sema, na aprovação do plano de manejo, mas na sua operação. A empresa,
que estava autorizada a retirar e comercializar 150 mil metros cúbicos
de madeira, só atuou em cerca de 5% da área, conforme viria a descobrir a
fiscalização de campo. E ainda assim, a pouca madeira retirada da
floresta continuava no chão – o que significa dizer que a Tecnoflora não
tinha mesmo o propósito de comercializar a sua produção.
Ao invés de fazer isso, a empresa passou a simplesmente vender
papéis, procedimento comum na longa cronologia das fraudes relacionadas
com a extração ilegal e a comercialização clandestina de madeira no Pará
desde a segunda metade do século passado. Esses papéis, as chamadas
Guias Florestais, foram abastecer nada menos que 54 indústrias
madeireiras, que os utilizaram para esquentar os estoques de madeira de
origem desconhecida mantidos no pátio.
Para detectar a fraude do Marajó – e outras em curso, segundo
evidências já colhidas pela Sema –, foram utilizados os recursos da sala
de monitoramento, em funcionamento desde o ano passado, e as
fiscalizações de campo. A sala de monitoramento permite à secretaria
acompanhar, pela análise de imagens de satélites, as operações dos
projetos de manejo. Quando são detectados sinais de anormalidade, o
pessoal sai para uma inspeção in loco. Foi o que aconteceu no projeto da
Tecnoflora, numa área de difícil acesso e para onde os fiscais tiveram
que viajar a bordo de um helicóptero.
José Alberto Colares disse que, do final do ano passado para cá,
houve uma intensa movimentação de venda de créditos de madeira por parte
da Tecnoflora, o que sugeria um ritmo muito forte de produção. A partir
de junho, quando as imagens de satélite passaram a ganhar mais nitidez
por causa das condições climáticas favoráveis e da menor presença de
nuvens, o pessoal da sala de monitoramento percebeu, com espanto, que
não havia na área movimentação compatível com o volume de créditos
comercializados. Aí – disse Colares –, o passo seguinte foi a inspeção
de campo, que comprovou a utilização de mecanismo fraudulento.
O secretário informou que tanto a Tecnoflora quanto as 52 indústrias
madeireiras envolvidas na frade foram autuadas e tiveram bloqueadas as
suas operações. Agora, terão prazo de 15 dias para apresentar defesa na
esfera administrativa.
Depois o caso será encaminhado ao Ministério Público, que tomará as
medidas cabíveis para punição dos acusados na esfera criminal. A
reportagem do DIÁRIO tentou contato com o engenheiro florestal Eduardo
Eguchi, controlador da Tecnoflora, mas o telefone dele se manteve
insistentemente fora da área da cobertura.
Mercado
Por volta de 2006, o parque industrial madeireiro em operação no Pará
consumia em torno de 6 a 7 milhões de metros cúbicos de madeira por
ano. Como não houve, até onde se sabe, nenhuma redução drástica do
consumo, pode-se presumir que esse volume esteja valendo também para os
dias atuais, mesmo sem considerar a pressão de demanda exercida pelo
crescimento, nesse período, da massa populacional, potencialmente
consumidora de produtos florestais.
Contrariando essa lógica, o volume anualmente aprovado pela Sema,
segundo dados de 2012 e que devem permanecer praticamente inalterados em
2013, varia entre 3 e 3,5 milhões de metros cúbicos por ano, o que
corresponde a metade do consumo presumido. E de onde vem a outra metade?
Segundo o secretário da Sema, muito provavelmente de mecanismos
fraudulentos, como o que acaba de ser detectado agora.
Fonte: Diário do Pará
Publicado em 21 de setembro de 2013 às 11:00
Publicado em 21 de setembro de 2013 às 11:00
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