A jovem que teria ficado presa durante três dias do mês de agosto em
uma cela com seis homens no município de Chaves, na região do Marajó,
Graciane Freitas da Silva, de 21 anos, foi ouvida ontem pela Comissão de
Direitos Humanos da Assembleia Legislativa. Grávida de dois meses, a
jovem relatou ter sido agredida verbalmente principalmente pelo delegado
Edgar Henrique Monteiro – que nega veementemente todo o ocorrido,
inclusive a prisão – e que seu filho, de apenas onze meses e ainda
lactente, só podia visitá-la duas vezes por dia.
Os deputados Carlos Bordalo (PT), Augusto Pantoja (PPS), Edmilson
Rodrigues (PSol) e Nilma Lima (PMDB) acompanharam a oitiva e anunciaram
que pediriam à Secretaria de Estado de Segurança Pública (Segup) o
afastamento imediato de Monteiro, além de proteção à vítima para impedir
que Graciane sofra retaliações.
A jovem contou que, no dia 27 de agosto, Edgar foi até a casa que ela
divide com o pai e pediu para que lhe acompanhasse em uma moto até a
delegacia. Lá ele teria dito a ela que, se não entregasse um grupo de
foragidos, que incluía seu companheiro, ficaria presa até que eles
fossem capturados. Nesse momento, Graciane afirma ter sido ofendida com
palavras de baixo calão e, em seguida, enviada a uma cela com outros
seis homens – que não a trataram mal porque eram conhecidos, segundo a
própria vítima. A irmã Henriqueta Cavalcante, coordenadora da Comissão
de Justiça e Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB
Norte), acompanhou Graciane durante o depoimento.
A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil –
Seção Pará (OAB-PA) passou a tarde em reuniões com membros do Conselho
de Segurança Pública, da Segup e da Delegacia Geral cobrando
providências. “Queremos um inquérito policial para que seja apurado o
que de fato aconteceu e que o Estado dê apoio a essa jovem, tanto em
questões de proteção como de amparo psicológico. Não só ela, mas
precisam ser ouvidos os policiais, o delegado, os parentes e todas as
testemunhas que ajudem a elucidar o que aconteceu”, explicou Luanna
Tomaz, presidente da comissão.
Edgar Henrique Monteiro afirmou por telefone que a prisão nunca
aconteceu e que Graciane apenas prestou depoimento na delegacia no dia
27 e na presença do pai, sendo liberada em seguida. Disse ainda que o
bando procurado cometeu crimes diversos, dentre homicídios e até mesmo
incêndios criminosos. “Ela nem chegou perto da carceragem. Em Chaves,
mulher não é presa desde outubro do ano passado”, defendeu-se.
Embora não tenha sido notificado oficialmente sobre qualquer
investigação, o delegado disse estar ciente de que o Diário Oficial do
Estado (DOE) desta quarta, 11, publicou abertura de Processo
Administrativo Disciplinar (PAD) para apurar sua conduta em relação à
denúncia feita. Ele afirma ainda estar sendo vítima de perseguição do
ex-presidente da Câmara de Vereadores de Chaves, Ivaldo Melo (PPS),
cassado em julho passado e considerado foragido da Justiça por estar com
a prisão decretada, sob acusação de ter contraído empréstimos que eram
descontados arbitrariamente em contas de aposentados. “Essa investigação
foi minha e o advogado dele, Bruno Valente, também investigado nesse
processo, é o advogado da jovem”, explica, fazendo a relação entre os
fatos.
Em nota, a assessoria de imprensa da Polícia Civil informou que, “por
meio de sua Corregedoria-Geral, já instaurou uma Apuração
Administrativa Interna (AAI) para apurar a denúncia. A portaria que
institui a AAI foi publicada no Diário Oficial do Estado, desta
quarta-feira, 11, e toma por base notícia veiculada em jornal. No
decorrer da apuração, serão ouvidas todas as pessoas relacionadas à
denúncia, desde a denunciante até pessoas que estavam na Delegacia em
Chaves, para chegar à verdade dos fatos. Após a notícia publicada na
imprensa no último dia 6, a Corregedoria se antecipou e enviou ao
delegado de Chaves pedido de explicações sobre os fatos denunciados. As
explicações já foram enviadas e farão parte do procedimento apuratório”.
(Diário do Pará)
Quinta-feira, 12/09/2013, 09h00
Quinta-feira, 12/09/2013, 09h00
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