EM BELÉM
Exército das apostas mobiliza cerca de 3 mil cambistas em mais de mil pontos
DILSON PIMENTEL
Da Redação
Depois
da operação "Efeito Dominó", realizada há pouco mais de uma semana pela
Polícia Civil para desmantelar organizações criminosas que exploram
ilegalmente os jogos de azar, a expectativa, agora, é saber o que deverá
mudar na rotina do jogo do bicho, no Pará. Como já era esperado pelos
policiais, os 41 presos no Estado ficariam pouco tempo na cadeia. Na
sexta-feira passada, apenas três continuavam presos. Logo depois da
operação, deflagrada no dia 6 deste mês, o momento era de muita cautela
por parte de quem atua no ramo, que, segundo investigações da Polícia,
arrecada em torno de R$ 1 milhão por dia em Belém, incluindo nesse
faturamento ilegal uma atividade lícita. "Para camuflar a atividade
ilegal, eles também fazem uso de atividade legal, que é a venda de
recarga de celular", afirma o delegado Ricardo Caçapietra, da Secretaria
Adjunta de Inteligência e Análise Criminal, da Secretaria de Estado de
Segurança Pública e Defesa Social. As investigações chefiadas por ele,
ao longo de um ano e quatro meses e que resultaram na operação "Efeito
Dominó", também revelaram a existência de mais de mil locais de apostas
do jogo do bicho em Belém, atividade que envolve aproximadamente três
mil pessoas trabalhando diretamente ou indiretamente nesse ramo.
Na
tarde da última quarta-feira, mais de 100 cambistas, arrecadadores e
agenciadores do jogo do bicho fizeram um protesto, em Belém. Eles
percorreram um trecho da avenida Almirante Barroso para dizer que são
trabalhadores, e não bandidos, e pedir às autoridades que os deixem
trabalhar em paz. "Fica difícil fazer qualquer prognóstico sobre o
futuro do jogo do bicho no Estado do Pará. Penso que a atividade pode
voltar a ocorrer de maneira muito mais velada (escondida)", diz o
delegado, ao informar que os locais de apostas estão disseminados por
todos os bairros de Belém. O delegado Ricardo diz que grande parte dos
apontadores (ou cambistas) tem pouca qualificação profissional e muitos
usam os valores recebidos como complemento de renda. Geralmente, o local
de atuação deles confunde-se com a própria residência e imediações.
O
delegado afirma que, com base em alguns documentos apreendidos durante a
operação "Efeito Dominó", que demonstram o fluxo contábil das
organizações, a maioria das pessoas envolvidas recebe uma porcentagem
sobre as apostas feitas. Outros têm uma participação mais ativa nas
atividades diárias e recebem valores que vão de um salário mínimo até R$
12 mil. E alguns sócios das bancas, na repartição dos lucros, ficam com
valores superiores a R$ 100 mil mensais. Sabe-se que, no Brasil, o jogo
do bicho é cultural, um forte indicativo de que, apesar da operação
Efeito Dominó, a prática continuará sendo exercida normalmente em Belém.
CULTURA
Sobre
esse tema, diz o delegado Ricardo Caçapietra: "Como operadores do
Direito, uma ciência social, não poderíamos deixar de abordar durante a
investigação a cultura que circunda a atividade de exploração do jogo do
bicho. Buscamos conhecer as origens e a evolução dessa contravenção, em
especial no Pará. Nesse sentido, percebemos que ainda tratamos a
questão em pleno século XXI sob a ótica do final do século XIX - ou
seja, com muita hipocrisia. Particularmente, entendo que já passou o
tempo de se discutir seriamente a sua legalização e regulamentação".
Ele
continua: "Acontece que esse discurso do jogo do bicho ser algo
cultural não tem cabimento para a polícia, instituição responsável por
fazer cumprir as leis. Em face disso, as pessoas mais simples ou aquelas
interessadas no debate rasteiro acabam confundindo as coisas. Enquanto
for uma atividade ilegal, prevista como ilícito penal, deverá ser
reprimida. E devemos lembrar que quem tem a responsabilidade de traduzir
os anseios populares e a realidade social em normas é a política. Desta
forma, devem buscar no Congresso Nacional a resposta que merecem e
entendem ser razoável".
Fonte Jornal O Liberal 15 de Setembro de 2013
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