quinta-feira, 23 de maio de 2013
Griffo, a insaciável (parte 1): há quase 20 anos, Griffo Comunicação ganha todas as licitações de propaganda dos governos que ajuda a eleger. Nas duas últimas licitações, jornalistas que trabalharam para a empresa integraram as comissões técnicas dos certames. Apesar dos milhões que recebe, dono da Griffo tem parentes empregados no Governo e na PMB. Até 2014, a empresa deverá receber mais de R$ 70 milhões dos cofres públicos - ou quase o dobro do que custou o Hospital Metropolitano.
Jatene e Orly, uma parceria milionária: até 2014, Griffo deverá receber mais de R$ 70 milhões |
É um caso para Malba Tahan resolver, já que o Ministério Público Estadual nem tchuns.
Desde meados da década de 1990, o Pará é palco de uma estranhíssima coincidência: o marqueteiro Orly Bezerra elege um político para o Governo do Estado ou para a Prefeitura de Belém... - e quem vence a licitação para a milionária conta de propaganda do Governo ou da Prefeitura é a Griffo Comunicação e Jornalismo, que pertence ao mesmíssimo Orly.
No entanto, quando o candidato de Orly perde a eleição, a Griffo também perde a licitação.
Daí a dúvida, que parece só não incomodar o Ministério Público: qual a probabilidade matemática da repetição de uma coincidência dessas, ao longo de quase 20 anos?
Pior: nas duas últimas licitações em que a Griffo saiu vencedora (em 2011, para a propaganda do Governo do Pará; e em 2012, para a conta de propaganda da Assembleia Legislativa – Alepa) há fatos, no mínimo, instigantes.
Em ambas as licitações, as propostas técnicas das concorrentes foram avaliadas por uma comissão integrada por 3 jornalistas e publicitários.
E também em ambas as licitações, esses 3 jornalistas e publicitários foram escolhidos, por sorteio, dentro de um grupo de 9 pessoas.
O problema é que das 9 pessoas de cada um desses grupos, 5 (ou mais da metade) já trabalharam para a Griffo em campanhas eleitorais, inclusive, nas eleições para o Governo do Estado e o Senado Federal, em 2006 e 2010.
Algumas, aliás, prestam serviços há mais de uma década à empresa; outras, já foram até indicadas, informalmente, para cargos públicos por Orly.
Como o leitor já deve ter deduzido, o resultado desse “arranjo matemático” não poderia ser outro: na licitação do Governo, pelo menos uma integrante da comissão que avaliou as propostas técnicas, já trabalhou para a Griffo.
Na Alepa, pelo menos dois integrantes da comissão já prestaram serviços à empresa.
E isso num estado que possui, além de jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão, mais de três dezenas de empresas de propaganda.
É ou não é um “causo” que deixaria Malba Tahan feliz da vida em decifrar?
No entanto, ainda mais impressionante é a montanha de dinheiro que a Griffo deverá faturar dos cofres públicos paraenses, até 2014: pelo menos, R$ 70 milhões – e numa conta muito, mas muito por baixo.
Só por serviços realizados em 2011, através de um contrato de propaganda assinado em julho daquele ano, a Griffo recebeu do Governo do Estado mais de R$ 9,2 milhões.
Foram R$ 8,6 milhões pagos ainda em 2011, e outros R$ 604 mil quitados já em 2012, através da rubrica orçamentária “Despesas de Exercícios Anteriores”, conforme dados do portal Transparência Pará, mantido pelo próprio Governo Estadual.
No ano passado, já com o contrato de propaganda bombando ao longo de doze meses, a Griffo recebeu do Governo mais de R$ 21,7 milhões.
Desses R$ 21,7 milhões, R$18,5 milhões foram quitados naquele mesmo ano, através da rubrica “Outros serviços de Terceiros – Pessoa Jurídica”, e R$ 3,2 milhões foram pagos apenas em 2013, na rubrica “Despesas de Exercícios Anteriores”.
Total de pagamentos à Griffo por um ano e meio de trabalho: quase R$ 31 milhões.
Isso coloca a possibilidade de que só o contrato de propaganda do Governo do Estado venha a render a Griffo, até o final de 2014, mais de R$ 60 milhões.
Mas, desde julho de 2011, a empresa também mantém um contrato de R$ 3,2 milhões por ano com o Banco do Estado do Pará (Banpará), o que deverá resultar em um ganho superior a R$ 10 milhões, também até 2014.
Além disso, a Griffo ganhou a conta de propaganda da Alepa, que estaria, há alguns anos, em cerca de R$ 9 milhões – e que a Perereca da Vizinha ainda tenta descobrir em quanto está hoje.
Só para você ter ideia do que representa essa bolada de R$ 70 milhões, num estado pobre como o Pará: ela quase empata com os R$ 76 milhões de ICMS recebidos, no ano passado, pelo município de Marabá, com mais de 233 mil habitantes, e uma das locomotivas do Sul e Sudeste do estado.
E representa, também, quase o dobro daquilo que foi gasto na construção do Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência (Ananindeua), inaugurado em março de 2006: R$ 25,2 milhões, ou o equivalente, em março de 2013, a R$ 36 milhões, em valores corrigidos pelo IPCA-E.
No entanto, apesar de todos esses milhões que recebe dos cofres públicos, o marqueteiro Orly Bezerra ainda possui pelo menos cinco parentes que ocupam cargos de direção e assessoramento no Governo do Estado e na Prefeitura de Belém, numa impressionante relação de promiscuidade entre uma empresa e o Poder Público.
Leia nas próximas reportagens da série “Griffo, a insaciável”:
_As licitações do Governo e da Alepa para a propaganda, ambas vencidas pela Griffo;
_As coincidências entre as campanhas eleitorais realizadas por Orly e as contas de propaganda que ganhou;
_Os parentes do marqueteiro que possuem cargos no Governo e na Prefeitura.
_Afinal, que fim levou o rumoroso caso da PrevSaúde?
E confira nos quadrinhos abaixo, extraídos do portal Transparência Pará e do Diário Oficial do Estado (DOE), os milhões carreados para a Griffo Comunicação.
Primeiro, o contrato de propaganda do Governo do Estado.
O extrato contratual, publicado no Diário Oficial de 12 de julho de 2011, caderno 1, página 7:
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