domingo, 24 de março de 2013

Marabá é a mais violenta para os jovens

Ao celebrar seu aniversário de 22 anos, em fevereiro passado, o marabaense Anderson de Almeida teve um motivo a mais para comemorar: a libertação do mundo das drogas. Ex-usuário de maconha e cocaína, o técnico em mecânica representa a juventude do município, considerado o segundo no ranking nacional, e o primeiro do Estado, no índice de violência para a juventude.
O Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência, divulgado em fevereiro pelo Ministério da Justiça e Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostrou que Marabá perde apenas para Eunápolis (BA), no quesito “mais violenta para a juventude”. 
Das cidades paraenses acima de 100 mil habitantes, o município polo do sudeste do Estado lidera a lista, ficando na frente de Marituba (15.ª), Ananindeua (28.ª) e Parauapebas (29.ª).
O estudo do Ministério da Justiça leva em consideração as taxas de violência a que os jovens de 12 a 29 anos estão expostos, como homicídios, mortalidade no trânsito, pobreza, desigualdade socioeconômica, frequência dos jovens nas escolas e o acesso ao mercado de trabalho. O relatório foi realizado com base no Censo de 2010.
Há um tempo Marabá carrega a contradição da marca de prosperidade e da violência. Próspero em seus indicativos de crescimento, nas promessas da instalação de grandes projetos de mineração e hoje com seu comércio aquecido. Violência retratada em seus índices cada vez mais alarmantes. 
Para o delegado Alberto Teixeira de Barros, superintendente Regional da Polícia Civil, os fatores como pobreza, desigualdade socioeconômica e frequência de jovens nas escolas resultam em homicídios. “A Polícia, quer seja Civil ou Militar, combate os efeitos de uma causa que não são da nossa responsabilidade. O que gera a violência são a falta de infra-estrutura e condições para a comunidade em geral ter acesso à escola e trabalho”, mencionou.
Para Alberto Teixeira, fatores como a extensão territorial para atuação da Polícia, conflitos agrários, má conservação das estradas e fronteiras com outros Estados também resultam na vulnerabilidade violenta aos jovens.
Fronteira vulnerável no sudeste do Pará

Marabá fica no coração do sudeste paraense. Pelo município, grandes e importantes rodovias perpassam, como a BR-230 (Transamazônica), a BR-155 (porta de entrada dos principais municípios do sul do Estado) e a PA-150 (a principal rodovia paraense). Além de aeroporto, rios navegáveis (Tocantins e Itacaíunas) e uma ferrovia (Estrada de Ferro Carajás). Esse caráter multimodal confere à cidade uma vulnerabilidade muito grande. Aqui, se chega – e se vai - muito facilmente.


O delegado Alberto Teixeira destaca esses fatores como a presença do que chama de “população flutuante”: pessoas que vêm à cidade em busca de melhores condições de vida e a procura de trabalho nos grandes projetos que existem (e nos que estão na promessa) na cidade. “Temos um círculo migratório muito grande de pessoas que vêm para cá, não conseguem emprego e ficam por aqui. Não tendo a oportunidade no mercado de trabalho, acabam enveredando para a vida do crime. O grande surto migratório acaba gerando a violência”, explicou o superintendente.


A preocupação com a violência em Marabá vem sendo reforçada nos últimos anos, principalmente com a inclusão do município em índices como o do Ministério da Justiça. 


O tema é recorrente nas rodas de amigos, da conversa na periferia, nos discursos políticos, e em planos de governo também. Mas o que se fazer diante de números e estatísticas tão assustadores?

Na comemoração dos 100 anos de emancipação política e administrativa de Marabá, no próximo dia 5 de abril, um estudo apurado pretende mostrar as causas da violência e apontar algumas saídas. 


O relatório está sendo organizado pelo Centro de Prevenção, Apoio Social e Pastoral (Cepasp). À frente do trabalho está o sociólogo e ativista social Raimundo Gomes da Cruz Neto, que adianta algumas dessas causas. “Vivemos numa desigualdade social, onde pequenos grupos têm uma grande concentração de renda e de benefícios, enquanto a maioria da sociedade é desassistida de educação, saúde e assistência social. Temos redes de agenciadores de exploração sexual e de tráfico de drogas e essa juventude fica vulnerável”.


Problemas resultantes da falta de incentivo à cultura e à educação são os principais fatores que levam o jovem à violência. “Marabá ainda não tem políticas que incentivem o jovem a gostar de estudar, a ter prazer na educação. Sem educação o jovem fica sem emprego e vulnerável aos agenciadores a aliciadores”, opina Raimundo Neto. 


A rota das drogas que vêm de fora e passam pelo Pará e por Marabá também são fortes indícios do resultado tão pessimista do relatório.
(Diário do Pará)

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