Ao celebrar seu aniversário de 22 anos, em fevereiro passado, o
marabaense Anderson de Almeida teve um motivo a mais para comemorar: a
libertação do mundo das drogas. Ex-usuário de maconha e cocaína, o
técnico em mecânica representa a juventude do município, considerado o
segundo no ranking nacional, e o primeiro do Estado, no índice de
violência para a juventude.
O Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência, divulgado em
fevereiro pelo Ministério da Justiça e Fórum Brasileiro de Segurança
Pública, mostrou que Marabá perde apenas para Eunápolis (BA), no quesito
“mais violenta para a juventude”.
Das cidades paraenses acima de 100 mil habitantes, o município polo
do sudeste do Estado lidera a lista, ficando na frente de Marituba
(15.ª), Ananindeua (28.ª) e Parauapebas (29.ª).
O estudo do Ministério da Justiça leva em consideração as taxas de
violência a que os jovens de 12 a 29 anos estão expostos, como
homicídios, mortalidade no trânsito, pobreza, desigualdade
socioeconômica, frequência dos jovens nas escolas e o acesso ao mercado
de trabalho. O relatório foi realizado com base no Censo de 2010.
Há um tempo Marabá carrega a contradição da marca de prosperidade e
da violência. Próspero em seus indicativos de crescimento, nas promessas
da instalação de grandes projetos de mineração e hoje com seu comércio
aquecido. Violência retratada em seus índices cada vez mais alarmantes.
Para o delegado Alberto Teixeira de Barros, superintendente Regional
da Polícia Civil, os fatores como pobreza, desigualdade socioeconômica e
frequência de jovens nas escolas resultam em homicídios. “A Polícia,
quer seja Civil ou Militar, combate os efeitos de uma causa que não são
da nossa responsabilidade. O que gera a violência são a falta de
infra-estrutura e condições para a comunidade em geral ter acesso à
escola e trabalho”, mencionou.
Para Alberto Teixeira, fatores como a extensão territorial para
atuação da Polícia, conflitos agrários, má conservação das estradas e
fronteiras com outros Estados também resultam na vulnerabilidade
violenta aos jovens.
Fronteira vulnerável no sudeste do Pará
Marabá fica no coração do sudeste paraense. Pelo município,
grandes e importantes rodovias perpassam, como a BR-230
(Transamazônica), a BR-155 (porta de entrada dos principais municípios
do sul do Estado) e a PA-150 (a principal rodovia paraense). Além de
aeroporto, rios navegáveis (Tocantins e Itacaíunas) e uma ferrovia
(Estrada de Ferro Carajás). Esse caráter multimodal confere à cidade uma
vulnerabilidade muito grande. Aqui, se chega – e se vai - muito
facilmente.
O delegado Alberto Teixeira destaca esses fatores como a
presença do que chama de “população flutuante”: pessoas que vêm à cidade
em busca de melhores condições de vida e a procura de trabalho nos
grandes projetos que existem (e nos que estão na promessa) na cidade.
“Temos um círculo migratório muito grande de pessoas que vêm para cá,
não conseguem emprego e ficam por aqui. Não tendo a oportunidade no
mercado de trabalho, acabam enveredando para a vida do crime. O grande
surto migratório acaba gerando a violência”, explicou o superintendente.
A preocupação com a violência em Marabá vem sendo reforçada nos
últimos anos, principalmente com a inclusão do município em índices
como o do Ministério da Justiça.
O tema é recorrente nas rodas de amigos, da conversa na
periferia, nos discursos políticos, e em planos de governo também. Mas o
que se fazer diante de números e estatísticas tão assustadores?
Na
comemoração dos 100 anos de emancipação política e administrativa de
Marabá, no próximo dia 5 de abril, um estudo apurado pretende mostrar as
causas da violência e apontar algumas saídas.
O relatório está sendo organizado pelo Centro de Prevenção,
Apoio Social e Pastoral (Cepasp). À frente do trabalho está o sociólogo e
ativista social Raimundo Gomes da Cruz Neto, que adianta algumas dessas
causas. “Vivemos numa desigualdade social, onde pequenos grupos têm uma
grande concentração de renda e de benefícios, enquanto a maioria da
sociedade é desassistida de educação, saúde e assistência social. Temos
redes de agenciadores de exploração sexual e de tráfico de drogas e essa
juventude fica vulnerável”.
Problemas resultantes da falta de incentivo à cultura e à
educação são os principais fatores que levam o jovem à violência.
“Marabá ainda não tem políticas que incentivem o jovem a gostar de
estudar, a ter prazer na educação. Sem educação o jovem fica sem emprego
e vulnerável aos agenciadores a aliciadores”, opina Raimundo Neto.
A rota das drogas que vêm de fora e passam pelo Pará e por
Marabá também são fortes indícios do resultado tão pessimista do
relatório.
(Diário do Pará)
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