sábado, 15 de março de 2014

COMO MANTER UM MANDATO PARLAMENTAR

Normalmente, 2/3 dos deputados paraenses, tem origem a partir de herança familiar,  são ex-prefeitos, esposas de prefeitos ou parentes de primeiro ou segundo grau de prefeitos e deputados.  Os out sider ou prefeitos estranho à classe política são minorias em nossos municípios. Ou seja, o familismo ainda é o núcleo da organização da elite política municipal no Pará. A segunda característica do perfil destes deputados é de que a maioria é governista, ou seja, 4/5 tenderão a se filiar ao governador de plantão na esperança de levar obras e serviços aos municípios, independente de filiação partidária ou ideológica. Ou seja, a falta de autonomia orçamentária dos municípios brasileiros transforma a maioria dos  prefeitos em vassalo de governadores e presidente.
A manutenção ou não de uma mandato parlamentar no decorrer do tempo dependerá da conexão eleitoral que este parlamentar estabelecerá nos municípios paraenses. Temos quatro formas de conexões eleitorais testadas e de sucesso. São as conexões de parlamentares que se reelegem no tempo: 1- conexão com prefeitos ou ex-prefeitos, 2- conexão com igrejas evangélicas centralizadas pastoral e politicamente,  3- conexões com lideranças da sociedade civil organizada (sindicatos, colônias de pescadores e ONG’s), e 4- conexões diretas com as periferias das cidades através de prestação de serviços onde o estado está ausente.
Normalmente são deputados governistas, ou portadores de alto prestígio ou com enorme articulação política com o governo federal ou estadual é que conseguem  “levar” obras e serviços através de emendas parlamentares, convênios ou ação diretas dos governos para seus “prefeitos”. Qualquer ex-prefeito que continua em atividade política, nunca detém influência de pelo menos 3 mil votos em um municípios de trinta mil eleitores.
A conexão que parece ter o menor custo orçamentário e político, é a conexão com as igrejas evangélicas centralizadas e que “fazem” ações político-partidárias. Estamos falando das igrejas universal, quadrangular e assembleia de Deus. Estas, são instituições que mais eficácia tem apresentado nas competições eleitorais proporcionais. Em pesquisa recente, um orientando meu, e pastor, comprovou em dissertação de mestrado, que estes parlamentares, fiéis às confissões religiosas, precisam apenas de um atributo para manter o apoio da alta hierarquia das igrejas a seus mandatos: cumprirem fielmente, nos debates que envolvem os dogmas religiosos, as orientações de sua igreja. Caso este comportamento seja evidenciado, seu mandato será constantemente renovado. Normalmente, a conexão e a relação com os eleitores inexiste, ou não é regra. A conexão é com a hierarquia da igreja.
A conexão com a sociedade civil organizada tem uma grande base política e ideológica. É muito própria das democracias modernas e significa a influência orgânica e a capilaridade partidárias nos movimentos sociais. O custo desta conexão, que é muito própria da esquerda, é o custo organizativo e mobilizador. O parlamentar deve alimentar estas bases, fundamentalmente com informação e debates. Obras, serviços e convênios, são importantes, mas não são fundamentais para garantir lealdades. Este tipo de conexão eleitoral , nem a direita e nem o centro político ainda não desenvolveram, claro, existem honrosas exceções.
A conexão direta com as periferias das grandes cidades e áreas rurais muito pobres, é a conexão mais trabalhosa e cara que existe. Este tipo de conexão é uma faca de dois “gumes”, se o parlamentar tiver ações de resultados, que seja periódica, terá a lealdade daquela base eleitoral. Porém, no momento em que este parlamentar deixar de oferecer estes serviços e obras, o eleitor imediatamente se afasta. Estas ações são ideais para distritalizar, informalmente, o mandato parlamentar. O parlamentar precisará de uma  grande rede social para manter suas ações políticas. Este tipo de conexão eleitoral lembra muito a ação dos políticos quando da inauguração da república, onde os bens coletivos eram construídos, em boa parte,  com recursos particulares.
De todas estas quatro conexões, aquelas que menos dependem do aporte de recursos permanentes em direção aos distritos eleitorais, são as conexões religiosas e as conexões com a sociedade civil organizada. As conexões eleitorais mais caras e que exigem enormes adesões ao governo de plantão,  ou um alto prestígio pessoal, são as conexões com prefeitos e as conexões diretas com as periferias das cidades.
Uma coisa parece ser consensual para os estudiosos de conexões eleitorais: em todas as democracias ocidentais, sejam elas europeias ou americana, o eleitor enxerga o parlamentar como um realizador. Ou seja, além das funções clássicas de um parlamentar, como: elaborar leis e fiscalizar o executivo, o representante deve levar obras e serviços aos seus constituintes. O Parlamentar que esquercer esta constação empírica  estará fadado a ser deputado ou vereador de um único mandato. E esta característica é particularmente aguda nos países  populosos e com o Produto Interno Bruto baixo.
FONTE: Edir Veiga 09 de março, 2014 - 06h46

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