Estado do Pará será o campeão com mais de vinte mil ocorrências
LAISSA KHAYAT
Da Redação
O
Pará terá este ano a média de quase 24 novos casos de câncer por dia,
com destaque para os tumores malignos de próstata, mama feminina e colo
do útero. A estimativa é do Instituto Nacional do Câncer (Inca),
divulgada na semana passada. Serão mais de oito mil casos em 2014, sendo
a maior parte deles (4.520) em mulheres. Só em Belém, estima-se 3.210
vítimas da doença no total. Segundo pesquisadores do instituto, o índice
para este ano no Pará é aproximadamente 12% superior ao valor apontado
em 2010, intervalo que registrou um aumento de 910 novos casos. Os dados
colocam o Estado como o campeão entre todos os casos previstos à região
Norte, correspondente a 43,1% do total (20.020). Em seguida, estão
Amazonas, com aproximadamente metade da incidência paraense; Rondônia,
Tocantins, Acre, Roraima e Amapá.
Para o
Inca, a pobreza é uma agravante no Pará e nos demais estados do Norte
do país, porém o Estado é mais prejudicado ainda pela falta de programas
de controle e de informação junto à população. A reportagem procurou a
Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) para obter informações
sobre o controle da doença nos municípios paraenses e os programas de
prevenção disponibilizados na rede pública. No entanto, a Coordenação de
Oncologia do órgão não tem dados atualizados, apenas os referentes a
2003, os quais também não foram repassados pela assessoria. Até o
fechamento desta edição, não houve retorno para esclarecimentos.
De
acordo com o oncologista clínico Williams Barra, a qualidade de exames
preventivos depende de uma rede de saúde pública "eficiente". Como
coordenador da Unidade de Alta Complexidade em Câncer (Unacon) do
Hospital Universitário João de Barros Barreto e também pesquisador no
Núcleo de Pesquisas em Oncologia da Universidade Federal do Pará (UFPA),
ele relata que a experiência na área mostra que menos da metade da
população realiza exames clínicos antes do aparecimento de sintomas.
O
especialista acredita que, "mais importante" que procurar um médico ao
primeiro "sinal errado", as pessoas devem fazer um rastreamento, se
referindo a exames clínicos periódicos para avaliação pré-cancerígeno.
Ele observa que o rastreamento ainda é pouco buscado pela população
local, mas destaca a importância deste para o diagnóstico precoce. A
vendedora autônoma Carmita Rodrigues, de 63 anos, se preocupou com as
fortes dores no seio e procurou atendimento médico imediatamente.
Há 15
anos, ela recebeu a notícia de que as dores eram provocadas pelo câncer
de mama. Foram dois meses entre a descoberta dos nódulos nos seios,
através da mamografia, até a cirurgia no Hospital Ofir Loyola (HOL). Ela
conta que as dores fortes no seio a fez procurar atendimento numa
unidade de saúde em Ananindeua, onde mora, mas a falta de informações
angustiou a vendedora que decidiu se consultar em Belém. Após três
madrugadas na fila do Ofir, Carmita conseguiu agendar a consulta no
hospital, de onde saiu com as solicitações para a mamografia e exames
pré-operatórios. Na semana seguinte, ela retirou a mama e deu início às
45 sessões de radioterapia. "Saí da sala dele (do médico) chorando
muito. Falei que ia pensar se ia me operar. Não tinha a informação do
quanto a doença era grave. Não tinha esse conhecimento", disse.
Com a vida
profissional restabelecida e envolvida em atividades promovidas pela
Associação do Voluntariado de Apoio à Oncologia (Avao), Carmita faz
exames de controle da doença e pensa em reconstituir a mama. Olhando
para o que passou 15 anos atrás, ela atribui a cura ao diagnóstico
precoce. "Procuro sempre o médico, sempre que sinto qualquer coisa. Peço
que as pessoas não esperem os sintomas aparecerem. Muitas vezes, quando
aparecem, não tem mais chance de reverter essa doença", acrescentou.
Diagnóstico precoce ainda é a melhor forma de encarar a doença
Para o
rastreamento dos tumores mais incidentes na população, o oncologista
Williams Barra informa que a detecção do colo de útero pode ser feita
através o exame Papanicolau, disponível em unidades de saúde, e indicado
para mulheres após três anos do início da atividade sexual. Quanto à
prevenção de câncer de mama, o recomendado é a mamografia, um exame de
diagnóstico por imagem, para mulheres com idade a partir dos 40 anos. "O
autoexame é importante, mas a mamografia consegue diminuir o risco de
morrer. Quando o câncer se declara, em geral, já está avançado. O
autoexame não deve ser desestimulado na nossa população, mas em outros
países, com alto acesso à rede de saúde, mostrou-se ineficiente em
reduzir o índice de mortalidade", afirmou.
No
caso dos homens paraenses, cerca de 30% dos tumores malignos estão
localizados na próstata, o que remete a uma avaliação por parte de
urologista, especialidade médica que cuida do trato urinário de homens e
de mulheres e do sistema reprodutor dos homens. Ele informa que o
método preventivo é o toque retal para homens com idade a partir dos 50
anos, se não houver histórico da doença na famílias. Entretanto, se
houver casos precedentes na família, o ideal é fazer o exame a partir
dos 40 anos. "É uma questão cultural e educacional. É um exame simples,
rápido. É um toque simples feito pelo médico (urologista) com respeito.
Apesar do desconforto, pode diagnosticar um câncer e ter chance de cura.
Em estágios avançados, (o câncer de próstata) pode gerar impotência
masculina. O rastreamento é o maior benefício", disse.
Nos
casos de aparecimento de sintomas, o especialista reforça que a procura
pelo médico deve ser imediata. "Um sangramento que não deveria ocorrer,
um nódulo que não existe, anemia, emagrecimento e dores. Tudo isso são
sinais. Em geral quando aparecem já é estágio avançado. O estágio
pré-maligno é o do rastreamento. O problema está no nível de educação.
Uma educação da população sobre a saúde teria um efeito de procura à
rede de saúde. Existem programas (de prevenção) do Ministério da Saúde,
mas falta a divulgação", observou.
Ele associa o
diagnóstico precoce ao aumento de chances de sobreviver ao câncer.
"Quando se descobre um câncer cedo, as chances são algumas vezes maiores
que num câncer tardio, além do tratamento, menos sequelas. Um câncer
tardio, além da intensidade do tratamento, é mais debilitante e menor
chance de cura", reiterou, informando que cada caso deve ser avaliado em
particular, pois os procedimentos médicos dependem do tumor
identificado. "O câncer é multifatorial. A maior prevenção continua
sendo não fumar, não consumir bebidas alcoólicas, fazer atividade
física, controlar o peso, ter cuidado na exposição ao sol", completou.
Pescador achava que tinha amebíase
Diferente
da vendedora autônoma Carmita Rodrigues, o pescador Orivaldo Amorim, de
52 anos, não procurou um médico para saber o motivo da febre, da
diarreia e das dores na coluna e no quadril. Ele conta que associou os
sintomas à amebíase, resultado de alimentação contaminada. Quando as
dores se agravaram, ele saiu do município Augusto Corrêa, onde mora, até
Bragança, a 16 quilômetros da cidade. Isso aconteceu um ano depois do
aparecimento dos primeiros sinais do câncer de intestino, quando tinha
45 anos. "Fui em hospitais de Bragança, Capanema e Castanhal. A primeira
suspeita foi de câncer de próstata, mas me mandaram procurar ajuda no
Ofir Loyola. Doía muito o meu intestino. Tinham muitas vezes em que ia
no banheiro e defecava apenas sangue", lembrou.
Após
cirurgia para retirada do tumor maligno que já tinha sete centímetros e
início do tratamento com sessões de quimioterapia no HOL, ele está agora
fazendo o controle da doença. "O certo é quando a pessoa sentir os
sintomas procurar logo. Eu sentia, mas pensava que era outra coisa.
Depois que não aguentei, vi que o negócio era sério. Falta informação
para descobrir qualquer doença. Passei dois anos para poder vir. Era
para ter ido num médico mais cedo", opinou.
Outra
- A dona de casa Maria Valéria Ramalho, de 61 anos, também está em
tratamento de um câncer, mas o dela é na tireóide. Ela operou o órgão
recentemente e espera o início das sessões de quimioterapia. "Quando
engolia comida, aparecia um ‘nózinho’. Procurei logo um médico",
comentou. Essa não é a primeira vez que Maria Valéria encara a doença.
Quando tinha 45 anos, ela descobriu que tinha um câncer abdominal. "Tive
hemorragia de repente. Fiquei um ano com uma hemorragia muito forte.
Quando parou fiz exames e deu que eu estava com câncer", conta. As duas
experiências com a doença em períodos diferentes mostram a importância
do diagnóstico precoce para as chances de vida do paciente. "É
importante descobrir cedo e fazer o tratamento", diz.Fonte: Jornal Amazônia -
Edição de 09/02/2014
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