quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Grávida dividiu cela com seis homens no Marajó


A jovem que teria ficado presa durante três dias do mês de agosto em uma cela com seis homens no município de Chaves, na região do Marajó, Graciane Freitas da Silva, de 21 anos, foi ouvida ontem pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa. Grávida de dois meses, a jovem relatou ter sido agredida verbalmente principalmente pelo delegado Edgar Henrique Monteiro – que nega veementemente todo o ocorrido, inclusive a prisão – e que seu filho, de apenas onze meses e ainda lactente, só podia visitá-la duas vezes por dia. 
Os deputados Carlos Bordalo (PT), Augusto Pantoja (PPS), Edmilson Rodrigues (PSol) e Nilma Lima (PMDB) acompanharam a oitiva e anunciaram que pediriam à Secretaria de Estado de Segurança Pública (Segup) o afastamento imediato de Monteiro, além de proteção à vítima para impedir que Graciane sofra retaliações.
A jovem contou que, no dia 27 de agosto, Edgar foi até a casa que ela divide com o pai e pediu para que lhe acompanhasse em uma moto até a delegacia. Lá ele teria dito a ela que, se não entregasse um grupo de foragidos, que incluía seu companheiro, ficaria presa até que eles fossem capturados. Nesse momento, Graciane afirma ter sido ofendida com palavras de baixo calão e, em seguida, enviada a uma cela com outros seis homens – que não a trataram mal porque eram conhecidos, segundo a própria vítima. A irmã Henriqueta Cavalcante, coordenadora da Comissão de Justiça e Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte), acompanhou Graciane durante o depoimento.
A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Pará (OAB-PA) passou a tarde em reuniões com membros do Conselho de Segurança Pública, da Segup e da Delegacia Geral cobrando providências. “Queremos um inquérito policial para que seja apurado o que de fato aconteceu e que o Estado dê apoio a essa jovem, tanto em questões de proteção como de amparo psicológico. Não só ela, mas precisam ser ouvidos os policiais, o delegado, os parentes e todas as testemunhas que ajudem a elucidar o que aconteceu”, explicou Luanna Tomaz, presidente da comissão.
Edgar Henrique Monteiro afirmou por telefone que a prisão nunca aconteceu e que Graciane apenas prestou depoimento na delegacia no dia 27 e na presença do pai, sendo liberada em seguida. Disse ainda que o bando procurado cometeu crimes diversos, dentre homicídios e até mesmo incêndios criminosos. “Ela nem chegou perto da carceragem. Em Chaves, mulher não é presa desde outubro do ano passado”, defendeu-se. 
Embora não tenha sido notificado oficialmente sobre qualquer investigação, o delegado disse estar ciente de que o Diário Oficial do Estado (DOE) desta quarta, 11, publicou abertura de Processo Administrativo Disciplinar (PAD) para apurar sua conduta em relação à denúncia feita. Ele afirma ainda estar sendo vítima de perseguição do ex-presidente da Câmara de Vereadores de Chaves, Ivaldo Melo (PPS), cassado em julho passado e considerado foragido da Justiça por estar com a prisão decretada, sob acusação de ter contraído empréstimos que eram descontados arbitrariamente em contas de aposentados. “Essa investigação foi minha e o advogado dele, Bruno Valente, também investigado nesse processo, é o advogado da jovem”, explica, fazendo a relação entre os fatos.
Em nota, a assessoria de imprensa da Polícia Civil informou que, “por meio de sua Corregedoria-Geral, já instaurou uma Apuração Administrativa Interna (AAI) para apurar a denúncia. A portaria que institui a AAI foi publicada no Diário Oficial do Estado, desta quarta-feira, 11, e toma por base notícia veiculada em jornal. No decorrer da apuração, serão ouvidas todas as pessoas relacionadas à denúncia, desde a denunciante até pessoas que estavam na Delegacia em Chaves, para chegar à verdade dos fatos. Após a notícia publicada na imprensa no último dia 6, a Corregedoria se antecipou e enviou ao delegado de Chaves pedido de explicações sobre os fatos denunciados. As explicações já foram enviadas e farão parte do procedimento apuratório”.
(Diário do Pará) 
Quinta-feira, 12/09/2013, 09h00

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